As rodovias federais brasileiras registraram mais de 67,6 mil acidentes em 2023, que deixaram 78 mil feridos e 5,6 mil mortos. Durante o período, Santa Catarina foi o segundo estado com maior número de ocorrências (7,7 mil), ficando atrás apenas de Minas Gerais. Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e revelam, ainda, que muitos dos incidentes envolveram caminhões.
Conforme a PRF, até abril de 2023 quase metade (46%) dos acidentes com mortes no Brasil estavam relacionados a esses veículos. A realidade é perceptível também no território catarinense, que depende principalmente do transporte rodoviário para escoar cargas a granel, madeira, minérios, contêineres e outros bens de destaque na economia local.
Mas, há um meio alternativo, menos aparente na mídia e nas rodas de conversa, que pode contribuir para a redução do número de caminhões nas estradas, melhora do tráfego de veículos e, consequentemente, diminuir os acidentes: o sistema ferroviário.
De acordo com o gerente de ferrovias da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias do Estado de Santa Catarina, as vantagens desse modal são diversas, como a melhora da mobilidade urbana, redução de custos logísticos e menor emissão de poluentes na atmosfera.
A informação vai ao encontro de dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), os quais afirmam que o transporte ferroviário emite menos de 96% do dióxido de carbono (CO₂) gerado pelo meio rodoviário. O CO₂ é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global.
Além disso, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2021 os trens de carga foram responsáveis por aproximadamente 2,9% das emissões nacionais provenientes apenas do setor de transporte de cargas
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Por outro lado, ao restringir a circulação de veículos de grande porte nas rodovias, as locomotivas auxiliam a evitar acidentes de trânsito, principalmente os mais graves. Nesse sentido, inclusive, as estradas de ferro são consideradas seguras: ao longo de todo o ano de 2023 foram registrados 701 incidentes, dos quais menos da metade (298) eram graves.
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Apesar das vantagens do sistema, os investimentos na malha ferroviária brasileira estagnaram entre 2020 e 2022, após uma queda considerável de 2016 a 2019:
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Segundo informações da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), 91% do minério de ferro exportado em 2022 chegou aos portos brasileiros por meio de trilhos: “o modo ferroviário responde pelo transporte de mais de 42% dos granéis agrícolas que vão para a exportação, índice que chega a 51% quando falamos em açúcar e milho”. Para a entidade, esses números ajudam a dimensionar a importância do modal para a logística nacional.
A MALHA FERROVIÁRIA DE SANTA CATARINA
Atualmente, Santa Catarina possui 763 quilômetros de malha ferroviária em operação e 610 quilômetros inativos, o que representa 4,4% de todo o sistema nacional. Duas empresas são responsáveis pelos trens que circulam pelo estado:
- Rumo Malha Sul (RMS) – atravessa o centro do estado na direção Norte-Sul, levando cargas, principalmente de grãos, até o porto de São Francisco do Sul. São 599 quilômetros de trilhos em atividade, que transportaram mais de 3,6 milhões de toneladas em 2023.
- Ferrovia Teresa Cristina (FTC) – transporta principalmente minério de carvão na região Sul do estado, ligando Criciúma ao porto de Imbituba em uma estrada de ferro de 164 quilômetros de extensão. Transportou 3,1 milhões de toneladas em 2023.
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Mas, ao que parece, a intenção do governo estadual não é parar por aí. Isso porque na visão do próprio secretário de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins, Santa Catarina tem potencial para ser, por meio de um sistema robusto de meios de transporte, um “corredor logístico para o Brasil” e o mundo.
A grande participação que o estado tem no mercado internacional como produtor de proteína animal (carne bovina, suína e frango) e grãos, bem como as pesadas importações de insumos agrícolas, contribuem para justificar a visão de Martins.
Saiba mais: Seara vai assumir as operações de contêineres no Porto de Itajaí
Dessa forma, o governo catarinense está trabalhando no desenvolvimento do projeto de duas novas estradas de ferro. A informação é do engenheiro civil e gerente de Ferrovias Silvio dos Santos, que atua há cinco anos na Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias. “O estado vai realizar os estudos, análises e desenvolver o projeto, que então será entregue a uma empresa privada, por meio de chamada pública, para que ela construa e opere a ferrovia”, explica.
O primeiro projeto é o Corredor Ferroviário de Santa Catarina, um trecho de 319 quilômetros que liga Chapecó, no Oeste, a Correia Pinto, onde há uma interligação com a Rumo Malha Sul. Com um custo de construção estimado em US$ 2 bilhões (mais de R$ 10 bilhões), a operação do trajeto deve começar em 2033, movendo 10 milhões de toneladas a cada viagem.
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Já a segunda linha férrea é a chamada Ferrovia dos Portos, percorrendo 62 quilômetros entre Navegantes e Araquari, no Litoral Norte, e conectando três portos de destaque no estado: Itajaí, Navegantes e São Francisco do Sul. O gasto previsto para a construção da estrada de ferro é de US$ 300 mil (cerca de R$ 1,5 milhão), com o início das operações previsto também para 2033. A capacidade de cargas permanece a mesma, 10 milhões de toneladas por vez.
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Conforme Silvio dos Santos, que tem 53 anos de experiência como engenheiro civil, 13 trens devem atravessar a Ferrovia dos Portos diariamente, cada um transportando 90 vagões. Na teoria, isso removeria das estradas mais de 3,5 mil caminhões contando apenas as viagens “de ida”:
É importante destacar que o número de contêineres transportados via malha ferroviária cresceu nos últimos anos, o que justifica a existência de uma “Ferrovia dos Portos”. Em 2022 foram mais de 575 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés, ou 6 metros) transportados por ferrovias. Os dados da ANTF revelam um aumento de 19% em relação a 2021, quando foram transportados 483 mil TEUs.
Além dos dois projetos mencionados, o governo do estado busca transformar o transporte ferroviário catarinense. Veja no mapa a seguir todas as rotas em planejamento para o futuro.
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Autor: Luiz Lerner, estagiário – Jornalismo