Higino João Pio, primeiro prefeito eleito de Balneário Camboriú, morto pela ditadura civil-militar em 1969, é tema de um pedido de correção nas atas relacionadas à causa de sua morte. A vereadora Jade Martins (MDB) protocolou, na sexta-feira, 7, um requerimento solicitando a alteração das atas de 11 de março de 1969 e 10 de outubro de 1969.
Segundo registros da época, o ex-prefeito foi preso em 19 de fevereiro por agentes da ditadura militar, sem uma justificativa clara. Duas semanas após sua prisão, em 3 de março do mesmo ano, foi encontrado morto em uma das celas da Escola de Aprendizes de Marinheiro, em Florianópolis. A versão oficial na época indicava que ele teria cometido suicídio.
No entanto, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) realizou uma investigação e ouviu diversas testemunhas, concluindo que Higino João Pio foi, na verdade, assassinado. O relatório da comissão desmentiu a versão oficial e revelou que o corpo dele tinha marcas de tortura.
Segundo o documento final da CNV, Higino foi encontrado com um arame no pescoço, amarrado a uma torneira, com os pés quase tocando o chão, o que indica que a cena foi montada para encobrir o crime. O relatório, que tem mais de 1.900 páginas, reúne laudos, fotos e depoimentos que comprovam essa conclusão.
Diante dessas evidências, a vereadora Jade Martins defende que a ata de 11 de março de 1969 seja corrigida para registrar a verdadeira causa da morte de Higino João Pio e reconhecer que ele foi assassinado pelo Estado brasileiro.
Além disso, ela pede a alteração da ata de 10 de outubro de 1969, especialmente na página 27, onde se menciona que “o interventor federal informa que o Sr. Álvaro Antônio da Silva prestou serviços ao Poder Executivo até o dia 2 de outubro”. A vereadora solicita que o texto deixe claro que esse serviço ocorreu em substituição ao prefeito titular, Higino João Pio, vítima de assassinato pelo regime militar.
De acordo com Jade Martins, a ação representa uma reparação histórica. “Reparar a história é, na verdade, se encontrar com a verdade. Aqui, não estamos querendo falar de partido político ou ideologia partidária. Estamos buscando reescrever a história da nossa cidade para que as futuras gerações que estudarem Balneário Camboriú conheçam os fatos reais e, também, em respeito à família”, declarou.
Agora, espera-se que os vereadores assinem o requerimento para que haja uma definição sobre a correção das atas.