Com mais de 100 mil habitantes e cerca de 214,5 km² a cidade de Camboriú, não dispõe de transporte coletivo para seus moradores. No entanto, a expectativa é de que essa realidade mude e a comunidade finalmente tenha um serviço de qualidade, capaz de atender às necessidades da população.
Para que isso aconteça, não bastam apenas promessas e planos futuros. A população cobra uma solução urgente, já que há anos enfrenta problemas de mobilidade para realizar deslocamentos simples do dia-a-dia, como ir ao médico, ir ao banco ou até mesmo ir ao centro da cidade.
A implantação de um transporte coletivo intermunicipal consorciado entre Camboriú e Balneário Camboriú surge como uma possível solução. A iniciativa já havia sido estudada no ano passado, a pedido da prefeitura de Camboriú. No entanto, com a implementação do transporte gratuito intramunicipal em Balneário Camboriú, as tratativas de um projeto compartilhado entre os dois municípios não avançaram.
Luz no fim do túnel ou não?
O Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Amfri (CIM-Amfri), associação pública responsável por promover licitações compartilhadas, realiza estudos de mobilidade e tráfego em Camboriú e Balneário Camboriú. O objetivo é identificar, de maneira precisa e unificada, a demanda da população por transporte público entre as cidades.
A pesquisa busca compreender onde há maior necessidade de deslocamento, qual o fluxo de passageiros em cada região e quais são as principais solicitações da comunidade. Além disso, pretende avaliar os benefícios que esse serviço traria para os moradores.
O diretor executivo do CIM-Amfri, Jaylon Jander, explicou que a instituição iniciará os estudos de mobilidade após conversas com o secretário de Planejamento Urbano de Camboriú, Alexandre Metsger, e com o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Balneário Camboriú, Carlos Humberto Silva.
A iniciativa foi retomada após o desejo dos prefeitos Leonel Pavan (PSD) e Juliana Pavan (PSD) de implantar um transporte coletivo intermunicipal entre as duas cidades.
“No fim do mês de março, vamos apresentar um estudo prévio em assembleia, que trará informações sobre os custos dessas análises”, afirmou Jander. Após a apresentação aos dois municípios, a instituição pretende finalizar as modalidades de todos os estudos e iniciar uma licitação, que deve ser concluída até o fim do primeiro quadrimestre deste ano. Ele ainda destacou que, após essa etapa, a expectativa é “obter uma concorrência ou contratação dos serviços até o final do primeiro semestre de 2025”, ou seja, até o mês de junho.
O diretor também explicou que a forma de implantação do transporte coletivo será debatida com os secretários de Planejamento de Camboriú e Balneário Camboriú.
No encontro, será decidido se, inicialmente, o serviço será prestado por meio da contratação de uma empresa, modelo que permite uma implementação mais rápida, ou se será adotada a concessão, que exige um processo licitatório para selecionar e definir a gestão da empresa responsável. ”Temos aqui mais de 850 mil habitantes, e a melhor solução para esse problema é buscar o trabalho em conjunto”, completou o diretor.
Jaylon Jander também destacou que, após a análise dos estudos realizados em 2024, foi identificado que Camboriú e Balneário Camboriú não tinham viabilidade econômica para implementar o transporte coletivo por conta própria, havendo a necessidade de um grande aporte financeiro para gerenciar o serviço municipal individualmente. Com isso, o CIM-Amfri criou a possibilidade de realizar uma licitação compartilhada entre as duas cidades.
Nova gestão, novos planos e o mesmo…
“Nós temos que ver se encaixa dentro do orçamento do município. Temos que esperar o projeto ficar pronto e fazer o levantamento de custos”, foi o que disse o prefeito Leonel Pavan (PSD) a respeito do estudo de mobilidade que será desenvolvido pela Amfri.
Pavan também informou que aguarda o resultado dos estudos para definir a forma de cobrança do serviço de transporte público, se a população pagará a passagem ou haverá outro método de custeio. “Geralmente, cada passageiro paga a sua passagem. Vamos esperar o projeto ficar pronto para depois formar uma opinião mais segura”, destacou o prefeito.
Questionado sobre o transporte intramunicipal, Pavan informou que a Viação Praiana tem a concessão para operar em linhas municipais, atendendo à população da cidade. Sendo assim, não é possível criar outra empresa para o mesmo serviço.
‘Se a Praiana não cumprir o contrato com o município da concessão, nós podemos intervir e achar outra empresa para operar em Camboriú”, afirmou o prefeito. O pedido de transporte municipal acontece há anos na cidade, e os moradores clamam por um serviço de qualidade.
“Nós não temos a Praiana como adversária, são parceiros, e o que nós queremos é que executem o que está no contrato”, afirmou o prefeito.
O que diz a população?
Com dificuldade de mobilidade urbana e ônibus intermunicipais apenas nas regiões mais movimentadas da cidade, os moradores das comunidades no interior de Camboriú são os que mais sofrem, sem assistência e garantia de serviços operando nessas localidades.
Os moradores pedem que a situação seja resolvida o mais breve possível e que haja a implementação do coletivo em localidades como Braço, Macacos e Rio do Meio, já que muitos dependem do transporte para trabalhar, ir à consultas médicas e resolver questões no centro da cidade.
“Mesmo a gente querendo pagar eles não querem colocar ônibus pra gente”, relatou a moradora Eliana Rigo, que reside na localidade do Braço, interior de Camboriú.
A moradora Alice dos Santos Teixeira destacou que, após a pandemia, o coletivo não operou mais nas localidades do interior e que, desde então, a população está sem alternativa de mobilidade. “Tem muitos aposentados, pessoas que não tem condição de ir e vir, e precisamos do transporte coletivo. Eu preciso do ônibus, tenho carro, mas não é todo dia que a gente está em condição de ir de carro”, destacou Alice, de 67 anos.
Outros moradores também relatam que, em muitos casos, são obrigados a mudar de região devido à dificuldade de se locomover todos os dias com o alto custo do combustível e pela falta de transporte público.
Apesar dos projetos, a incerteza persiste: como ficará o transporte coletivo em Camboriú? Os órgãos municipais transferem a responsabilidade da resolução do problema entre si, enquanto quem realmente precisa e não tem o poder de solucionar a questão continua sem transporte público.

Transporte gratuito para o interior
O ex-prefeito de Camboriú, Élcio Rogério, informou que, em 2024, após a desistência de Balneário Camboriú em dar continuidade ao projeto de transporte intermunicipal entre as duas cidades, a gestão passou a investir na compra de ônibus para oferecer transporte gratuito às localidades do interior.
Ao todo, foram adquiridos 10 novos ônibus para atender a demanda. No entanto, segundo Élcio, a falta de motoristas impossibilitou a implementação do transporte coletivo em Camboriú. “Nós não tínhamos motoristas em quantidade suficiente para realizar esse transporte. Seria desvio de função”, explicou o ex-prefeito.
Élcio também destacou que a gestão deixou R$ 20 milhões em recursos livres em caixa municipal para que a nova administração pudesse tratar questões emergenciais sem comprometer o orçamento de 2025. Segundo ele, caso o transporte coletivo fosse uma prioridade para a nova gestão, haveria recursos disponíveis para viabilizar a ação.
Serviços oferecidos pela Praiana
Em resposta ao prefeito Pavan, a Viação Praiana informou que não tem concessão para operar de maneira intramunicipal na cidade desde 2021, quando suspendeu os serviços devido à falta de retorno financeiro.
A empresa, no entanto, é a única que oferece transporte público em Camboriú, com rotas e linhas intermunicipais que atendem apenas às regiões mais movimentadas da cidade. Os bairros Centro, Areias, Santa Regina, Monte Alegre e Rio Pequeno recebem atendimento da empresa. O transporte coletivo beneficia apenas os moradores próximos a essas regiões.
A Praiana faz rotas em municípios como Porto Belo, Bombinhas, Itapema, Camboriú, Balneário Camboriú e Itajaí.
Matéria por: Érica Guckert – estagiária de Jornalismo